
Gabriela Mazepa, de amarelo, durante oficina de Upcycling no Senac Lapa Faustolo
Saias que viram blusas, calças que viram casacos, sobras de tecidos que se transformam em peças únicas. A paixão de Gabriela Mazepa, 34, estilista idealizadora do projeto Re-Roupa, pelo upcycling começou há cerca de dez anos, quando ela se mudou para Estrasbrugo, na França, para fazer intercâmbio e se matriculou em um curso superior de Arte e Têxtil, com foco em estudar a arte por meio dos tecidos.
Lá, Gabriela descobriu o interesse em contar as histórias das pessoas a partir das roupas que elas não utilizavam mais.
Não demorou muito para a estilista entender o legado da indústria da moda com base no que ela produzia em excesso. De acordo com a designer, 10 mil peças de vestuário são descartadas a cada cinco minutos no mundo todo.
O desafio de reverter esse gigantesco desperdício de insumos em novas possibilidades para o consumo de moda motivou Gabriela a ficar na França por quase uma década desenvolvendo suas técnicas de upcycling até que ela decidiu voltar ao Brasil para disseminar seu aprendizado. “Por aqui esse assunto é relativamente novo, mas na Europa já se fala de upcycling desde a época em que fui morar lá. Tive a sorte de conhecer muita gente pioneira”, relembra.
De lá pra cá, a estilista já realizou diversas parcerias com marcas nacionais e movimentos que também se preocupam com a sustentabilidade na cadeia de moda, como o Fashion Revolution e o Roupa Livre, além de diversas oficinas em instituições de moda no Brasil, sendo a mais recente a realizada no Senac Lapa Faustolo, em julho, na qual a designer utilizou o acervo de looks do #ModaInfo de estações anteriores para compôr a exposição de upcyling para a edição de Inverno 2017, que acontece no Teatro Cetip em 24/8.
Confira a entrevista feita pelo #ModaInfo com a Gabriela na íntegra:
Como você começou a trabalhar com upcycling?
Há dez anos que eu fui morar na França para fazer intercâmbio e me matriculei no curso superior de Arte e Têxtil, que tinha como foco o uso de tecido. A ideia era interpretar o tecido das mais diversas maneiras, tanto como forma artística, quanto como para uma roupa, por exemplo.
Quando você percebeu que faria disso sua profissão?
A minha preocupação era com um processo bem artístico no começo, contar a história da vida das pessoas através da roupa que elas não usavam mais. Então, fui percebendo que todas as pessoas tinham peças de roupa que não usavam mais com potencial de transformação. Uma coisa foi puxando a outra e, quando eu fui trabalhar na indústria de vestuário, vislumbrei o mesmo potencial para as sobras descartadas. Daí, não parei mais.
Como você começou a trabalhar com upcycling?
Na França mesmo, fiquei morando lá por mais de nove anos. Por aqui esse assunto é relativamente novo, mas na Europa já se fala de upcycling desde a época em que fui morar lá. Tive a sorte de conhecer muita gente pioneira.
O que te motivou a trabalhar com isso no Brasil?
Eu queria voltar a morar aqui e também acho que a gente tem um potencial enorme a ser explorado com relação à manufatura de roupa. Temos expertise em artesanato e pessoas precisando trabalhar. Acredito que a gente pode empoderar as pessoas através da costura, né?
Segundo o Sinditêxtil, 20 toneladas de insumos têxteis são descartados por dia apenas no Bom Retiro, então matéria-prima não é problema. Onde que o processo de reaproveitamento ainda empaca?
Nós não temos uma cultura de reaproveitamento, tampouco leis que garantam que não sejam produzidos tantos insumos para o simples desperdício. Além disso, mão-de-obra especializada é um problema, porque as pessoas não sabem o que fazer com aquilo, e, finalmente, o custo de produção, já que é relativamente caro desenvolver peças únicas e pagar alguém que encontre uma solução para cada peça descartada. Então a lógica atual é que vale mais a pena simplesmente jogar tudo fora, né.
Em que ponto que você tem de que o upcyling pode virar uma solução para o fast-fashion?
Eu não acho que o upcycling seja uma solução, pois daí as empresas vão se sentir confortáveis pra continuarem produzindo enlouquecidamente. O problema na moda é estrutural.
Falando sobre cultura, como tem sido a receptividade dos seus projetos?
Todo mundo acha superinovador e se interessa bastante. A gente nota um número crescente de participantes nas oficinas e nas palestras. Não sou a única fazendo isso aqui, tem mais gente colocando o assunto em pauta, mais universidades trazendo o tema para a grade dos cursos e até a mídia tem falado um pouquinho sobre isso.
Além das oficinas e parcerias com as empresas, quais outros projetos você está desenvolvendo agora?
A gente tem um projeto que se chama “trago a sua roupa de volta em 7 dias”, em que recebemos a roupa de um cliente e, sete dias depois, a enviamos para ele de volta por correio, totalmente transformada. Às vezes a pessoa já sabe do que ela não gosta e fala, mas quase sempre a gente faz o que quer, coloca outros tecidos e conta outra história.