No mês da mulher, perguntamos à nossa rede quais autoras inspiram sua caminhada

Nascido no icônico ano de 2015, considerado como um divisor de águas para o feminismo, o #ModaInfo cresceu alimentando-se da diversidade de influências que os múltiplos movimentos sociais inspirados pela causa trouxeram para as agendas da moda e na sociedade.

Só pra recapitular, foi nesse ano que campanhas globais revelaram o assédio no cotidiano no meio virtual por meio de ações virais como #chegadefiufiu e #meuamigosecreto, além do feminicídio ter sido reconhecido como crime hediondo.

Feminismo: deriva do movimento articulado na Europa, no século XIX, com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos, por considerar que as mulheres são iguais aos homens e devem ter acesso irrestrito às mesmas oportunidades.

Dicionário Michaelis

Não por acaso, palavras como empoderamento, que diz respeito ao processo de conscientização da sociedade sobre seus direitos humanos e civis, sororidade, conceito de irmandade que inibe os pré-julgamentos entre mulheres, e empatia, a habilidade de se colocar no lugar do outro, passaram a fazer parte do cotidiano de marcas e pessoas. O feminismo voltou à moda. 

Na época, o meio fashion respondeu prontamente a esse movimento com o exercício da desconstrução de gênero nas passarelas, tanto no Brasil quanto no exterior, numa onda de fluidez nas possibilidades do corpo vestido que abriu espaço para a discussão e denúncia sobre a objetificação da mulher em campanhas de moda sexistas, tal qual no showbusiness.

Desde então, acompanhamos o florescimento da demanda do público por representatividade, o que, num país mestiço e plural como o Brasil, evocou a descentralização dos parâmetros de beleza da convencional estética eurocêntrica nas criações de imagem de moda, culminando na inserção paulatina de mulheres negras, gordas e trans nesse circuito.

Apesar de ainda mantermos vergonhosos índices altíssimos de violência contra a mulher e, em especial, a população LGBTQI+, a influência crescente de narrativas inspiradoras de artistas ativistas como Linn da Quebrada, Iza e Karol Conka vem conscientizando as pessoas sobre a presença tóxica do machismo no cotidiano e, com isso, abalado indústrias poderosas, como a de bebidas, automóveis e do cinema, historicamente ligadas à esteriotipação de gênero e que, agora, dão sinais de estarem correndo atrás desse prejuízo com a ressignificação do seu storytelling.

Atent@s ao potencial transformador do feminino sobre as estruturas patriarcais da sociedade, colecionamos em nossa rede mulheres inspiradoras que participaram de discussões importantes sobre a inserção da mulher na moda brasileira e, de lá pra cá, propusemos ao nosso público a reflexão sobre o enriquecimento que a troca de experiências entre mulheres pode causar nessa indústria, que apesar de ainda ter na figura feminina seu principal contingente, concentra cargos de poder em mãos masculinas.

Mesmo assim, ainda tem fashionwash na moda? Sim. Tem apropriação cultural e gordofobia? Com certeza. Porém, como os recentes escândalos racistas de marcas poderosas como a Prada, a Gucci e a versão brasileira da Vogue deixaram claro, o público não deixa mais discurso raso passar despercebido. É preciso aprofundar.

Pensando nisso, propomos para o início dos trabalhos do mês de março, dedicado à mulher, uma reflexão sobre repertório. Quantos livros escritos por mulheres você já leu? Quais foram significativos na sua formação como ser humano? Por quê?

Vejam abaixo quem já nos respondeu essa pergunta e nos responda, qual livro te fez transbordar? #LeiaMulheres

Djamila Ribeiro e Audre Lorde, por Vivian Whiteman

“Em primeiro lugar, eu recomendo tudo o que a Djamila Ribiero escreve, pela clareza, organização e relevância do discurso feminista que ela defende, que é conhecedor da questão racial e da desigualdade no Brasil. Também recomendo o livro Sister Outsider, da Audre Lorde, que além de ser muito importante porque condensa um conteúdo radical, no sentido de que vai fundo em questões controversas, ele tem uma beleza de forma. Audre foi poeta e a poesia está em todas as formas do seu discurso”.

Vivian Whiteman

Jornalista especialista em moda, beleza e comportamento

O livro O que é lugar de fala (2017) foi o primeiro lançado por Djamila, que lançou Quem tem medo do feminismo negro? ano passado. Especialista em relações raciais e feminismo, a autora também coordena a coleção literária Feminismos Plurais, do Grupo Editorial Letramento e atua como colunista de diversas publicações nacionais, como o blog Blogueiras Negras e as revistas Marie Claire e Carta Capital.

Já a escritora caribenha-americana Audre Lorde (1934-1992) é referência nos estudos feministas pela forma como discorria sobre interseccionalidades do racismo, machismo, lgbtfobia e demais tipos de opressão.

As feministas negras são importantes na minha vida porque entendi que o feminismo só existe de fato se compreendermos as diferenças entre as experiências das mulheres e como elas são afetadas pela classe e pelo fator racial. Politizar o feminismo é caminho que pode de fato sustentá-lo, afastando-o do achatamento promovido por canais de mídia e oportunistas que tentam se apropriar do movimento e enfraquecê-lo como potência, explica Vivian

Histórias para Ninar garotas Rebeldes, por Iza Dezon

A primeira feminista que conheci foi minha avó, que se recusava a me contar os contos de fadas tradicionais quando eu era criança, optando por biografias de artistas de ambos os sexos como uma forma de, nas palavras dela, me incentivar a não viver esperando o príncipe.

O lançamento desse livro, em 2017, coincidiu com o nascimento da minha afilhada, a primeira menina da nova geração da minha família, e foi uma oportunidade de aprender com ela histórias inspiradoras de mulheres incríveis que eu não conhecia tão bem.

A premissa do livro é maravilhosa: preparar as meninas para o amanhã com histórias que as inspirem a se tornarem quem elas quiserem. Tudo é possível, contanto que elas tenham as influências certas.

Iza Dezon

Consultora de tendências na Peclers Paris

Manifesto Ciborgue, por Joy Pires

Publicado originalmente no periódico Socialist Review, no ano de 1985, o Manifesto Ciborgue escrito pela bióloga e filósofa norte-americana Donna J. Haraway (1944), propõe uma nova estratégia política feminista, que se relaciona com a ciência e a tecnologia.

Nele, o ciborgue, um personagem recorrente na ficção científica contemporânea, é utilizado como metáfora para a crítica da identidade em favor das diferenças e para reivindicar as possibilidades de uma apropriação politicamente responsável da ciência e da tecnologia. O artigo está publicado na obra Antropologia do Ciborgue, indicada ao lado.

Joy Pires

Designer especialista em tecnologias vestíveis

Sejamos todos feministas, por Marcela Maia

Chimamanda elucida dúvidas sobre o que é ser feminista, mostrando o machismo cotidiano, nas coisas simples, consequência dos erros estruturais da nossa sociedade. No livro, a gente se depara com as situações vividas por ela e se identifica. Tudo de forma muito simples e didática.

Esse livro se trata da transcrição de um talk da autora no TED, em 2013, de mesmo nome. 

Marcella Maia

Atriz, modelo e escritora

Chimamanda Ngozi Adichie (1977) é uma escritora nigeriana, reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras da atualidade, atraindo uma nova geração de leitores de literatura africana. Já lançou seis livros, dentre eles os romances Hibisco Roxo (2003) e Americanah (2013). Sua obra mais recente, Para Educar crianças feministas (2017), surgiu de uma carta escrita a uma amiga em que a aconselhava a educar sua filha como feminista.

Sensível ao Cuidado, por Marina Colerato

Este livro da Daniela Rosendo introduz na literatura feminista brasileira o conciliamento da teoria ecofeminista com a animalista, numa crítica ao domínio masculino sobre a natureza e, consequentemente, sobre todos os seres vivos.

Marina Colerato

Designer, fundadora da plataforma Modefica e da agência Futura Moda

Para quem desenha em sua mente o traçado que hierarquiza os seres, separando-os em fortes – dominantes, ativos, de um lado; e os contrapõe e sobrepõe aos fracos – dominados e passivos, de outro, tudo o que vive entra nessa moldura e, se cair na segunda categoria, pode ser dominado (manejado) para atender aos propósitos do dominador, não importa se é fêmea, mulher ou natureza. Daniela Rosendo desdobra as pregas morais dessa lógica da dominação, investigando com rigor a argumentação de Karen J. Warren. Este livro introduz no Brasil a questão ética feminista sem dicotomizar os conceitos que lhe são fundamentais, sem separar os princípios que devem reger a ética destinada a ordenar as interações entre os homens e mulheres, daqueles que devem reger as interações entre os seres humanos com os ecossistemas naturais e com os indivíduos das demais espécies animais.

Frankenstein, por Amanda Schön

Um dos meu livros de cabeceira é o clássico da escritora e ativista inglesa Mary Shelley, Frankenstein, escrito por ela aos 19 anos, em 1817. Na época, ela precisou creditar a obra ao seu marido para poder publicá-la, sendo reconhecida como autora apenas tempos depois.

Muita gente se fixa na narrativa ficcional de terror, mas, para mim ela é, na essência, um conto sobre negligência e desamor entre a criatura e o Dr. Frankenstein. Acredito que ele foi um desabafo da autora sobre sua relação com o abandono: ela perdeu a mãe ao nascer, fugiu para poder se casar, sendo rejeitada pelo pai, e perdeu sua filha prematuramente.

Amanda Schön

Artista visual e maquiadora

Mamãe & eu & mamãe, por Rafa Joaquim

Maya Angelou (1928 – 2014) foi uma intelectual norte-americana negra que se expressou em diversos canais, foi atriz, bailarina, atriz, cantora e escritora. Neste livro, ela fala sobre o poder de cura e libertação do amor, como o relacionamento dela com a mãe a inspirou a se tornar uma mulher forte, é uma inspiração para mim.

Poeta, Maya Angelou também escreveu romances, livros de culinária e autobiografias, gravou discos e participou de inúmeros programas de televisão, rádio, peças de teatro e filmes.

Rafa Joaquim

Pesquisadora de tendências à frente do Coolhunter Favela

Lab Girl, por Lina Lopes

Eu leio muitos livros técnicos, mas ultimamente estou lendo o Lab Girl, autobiografia da geoquímica norte-americana Hope Jahren, em que ela conta sua trajetória científica, que teve início no laboratório de química do seu pai, ainda na infância.  De certa forma, esse livro me fez resgatar a essência da pessoa que eu sou ao me conectar com as minhas relações familiares em casa, pois meu pai é engenheiro e minha mãe, física.

Não me considero feminista, pois não me identifico com nenhuma corrente teórica sobre o tema, mas acredito em protagonismo feminino. Eu sempre cito a personagem Penélope, da Odisséia, que ganhava tempo para governar seu país sozinha ao atrasar a finalização da colcha que deveria dar ao futuro marido, como um exemplo de protagonismo político feminino, pois ela hackeou o sistema vigente para tomar sua melhor decisão no momento, me vejo assim também.

 

Lina Lopes

Pesquisadora de tendências à frente do Coolhunter Favela

O Segundo Sexo e Um teto todo seu, por Augustina Comas

O Segundo Sexo da Simone de Beauvoir é um clássico que deve ser evisitado sempre. Já Um teto todo seu, da Virgínia Woolf, traz muitas reflexões sobre a influência das opressões vividas pelas mulheres na criação literária.

Augustina Comas

Estilista da Comas

Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. Embora não se considerasse uma filósofa, De Beauvoir teve uma influência significativa tanto no existencialismo feminista quanto na teoria feminista. É uma das principais autoras do movimento feminista.

Virginia Woolf, (1882 -1941), foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Estreou na literatura em 1915 com o romance The Voyage Out, que abriu o caminho para a sua carreira como escritora e uma série de obras notáveis, dentre romances, ensaios, peças de teatro, contos e biografias.

Fotos: Divulgação

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