Um recorte das tendências mapeadas nos últimos anos, para entender a importância e a conexão do passado com o presente, para desenhar o futuro
Por Juliana Padalka e Nathalia Anjos
Pulamos o texto de tendências pós-coronavírus. Mas reforçamos que é inegável que o mercado precisa olhar para o passado e para o presente, para desenhar e entender o que está por vir. Os movimentos desenhados pelo comportamento da sociedade, em resposta aos cenários cultural, econômico e político, impactam o mundo e os diversos setores produtivos, como a moda, que é nossa área de atuação. E, mais do que nunca, é preciso lembrar que quem está no centro desse processo são as pessoas. Pesquisa de tendências é sobre investigar, entender e interpretar os sinais de futuro que estão ao nosso alcance.
O trabalho do #modainfo é mapear essas tendências, que se apresentam como manifestações de comportamentos, e apontar ao público como concretizar essas informações em projetos, produtos e serviços. Reunimos aqui um resgate histórico dos últimos anos, com algumas macrotendências estéticas apresentadas no evento, e as aplicações que as tangibilizaram e foram divulgadas e comercializadas por negócios de moda e de outros mercados. As pessoas – porque mais do que público-alvo ou consumidores, quem se relaciona com as marcas e as empresas são pessoas – estão contempladas nos processos de criação, divulgação ou utilização desses exemplos? Essa é uma das reflexões abertas que pretendemos estimular com esse resgate! Mais do que isso, o que você pode tirar de aprendizado dessas experiências e levar para a sua realidade? Que tal começar entendendo como cada um desses projetos traduziu uma tendência, levando em conta todo o contexto no qual está inserido: região, alcance, público, objetivo do negócio, resultado financeiro etc?!
Em 2018, Iza Dezon falou sobre a macrotendência Sem Filtro
Movimento rumo à diminuição de imagens hiper manipuladas. Pessoas assumindo seus corpos, suas diferenças, sardas, vitiligo, celulite, estria. Também revelava um movimento de respiro, de que não é preciso estar sempre ativo, não somos robôs ou bonecas de plástico, descansar é mais do que necessário. E tudo isso revela imperfeições. Vidas, pessoas, corpos não padronizados. Então, uma retomada a um período, não tão distante, onde não existia tecnologia tão avançada na manipulação e edição de imagens, onde os procedimentos cirúrgicos e estéticos eram um pouco menos invasivos, nos leva à década de 1990, e junto com ela uma série de signos e elementos se materializam nas imagens de moda e outras áreas culturais. Com tratamentos menos plastificados e mais busca pela imagem natural.
Verão 90, novela apresentada pela Rede Globo em 2019:
Campanha da Levi’s de janeiro de 2020. O cabelo loiro oxigenado com a raiz preta e a atitude relaxada das modelos pressupõem um afrouxamento das imagens rigorosamente posadas:
Ver essa foto no InstagramLevi’s® pode ser a sua melhor companhia para deixar a terça-feira mais leve.
Com o projeto Rock Your Ugly o fotógrafo Waleed Shah, dos Emirados Árabes Unidos, ganhou notoriedade. Ele fotografa corpos reais, com marcas que imprimem as diferenças e aquilo que chamamos de imperfeições. Além disso, conversa com os fotografados sobre suas inseguranças:
Em 2018, Andrea Bisker falou sobre o movimento do Recharge
Sinais que mostravam vida e emoções extremas, assim como vivem os praticantes de esportes radicais. A fadiga digital impulsiona o desejo pela presença, por isso sugere o crescimento da prática de alguns esportes, especialmente os radicais, porque a atenção e a presença ao momento são fundamentais. O movimento também apontava para uma vida com propósito e indicava a conexão do ser humano com o planeta.
7CUMES, programa idealizado por Gustavo Ziller e apresentado pelo Canal Off, traduz esses sinais. Gustavo e uma pequena equipe escalam a montanha mais alta de cada continente na primeira tentativa. Cada montanha equivale a uma temporada do programa, que mostra toda a jornada de chegada ao topo do cume:
A Adidas, em parceria com a Parley For The Oceans, criou tênis e uniformes de um clube de futebol europeu com plásticos retirados dos oceanos. Propósito e conexão com o planeta:
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Em 2019, Carol Althaller falou sobre a macrotendência Bio Futuro
A conexão com a natureza se fazia mais presente e necessária. Nasce a era biodigital. O comportamento indica um aumento de iniciativas circulares, material e socialmente mais sustentáveis.
Levi’s lança coleção com peças feitas de cânhamo. O uso da fibra reduz o consumo de água e utiliza muito menos químicos. As primeiras peças da marca foram uma jaqueta e calças jeans, que utilizaram 69% algodão e 31% cânhamo:
O brilho que invadiu os carnavais, nos últimos anos, é bastante poluente e insustentável por ser um microplástico. Mas marcas como a Pura Bioglitter criaram alternativas biodegradáveis. A partir da iniciativa, tornou-se possível brilhar com glitter feito de algas, por exemplo:
Também em 2019, Carol Althaller falou sobre o movimento Conectado às Raízes
Um futuro consciente, inteligência emocional e conexões. Tecnologia que precisa se tornar mais humana. Tecnologia e artesanato combinados permitindo resultados mais fantásticos. Espiritualidade vem à tona e contato com a natureza.
Tita Co é uma marca de moda íntima, focada em sustentabilidade. Se descreve como um negócio que valoriza o bem estar, a satisfação e a responsabilidade social. Trabalha com algodão orgânico Pima e Parahyba:
E em 2020, o que vamos falar no meio de uma pandemia?
São três macrotendências mapeadas e uma delas vamos apresentar em primeira mão nesta matéria:
BurnIn
Numa proposta de inversão da síndrome do Burnout, distúrbio psíquico nomeado pelo psicanalista alemão Freudenberguer em 1970, o Burnin é um movimento mapeado que nos mostra sinais de excessos de recursos para o equilíbrio.
Burnout é o suposto fracasso do projeto de ser (Castro 2013), um esgotamento físico/emocional na prática do trabalho ocasionado por altos níveis de estresse e desequilibro entre o projeto de si mesmo e a realização profissional dentro de um contexto corporativo. Nas últimas duas décadas, a síndrome teve um aumento significativo nos números de casos em todos os setores de trabalho. Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 2013 apontava que 98% dos brasileiros se sentia cansado física e mentalmente.
Em meio a esse cenário de cansaço e esgotamento surgiram sinais de autocuidado e, na sequência, vimos surgir um movimento comportamental em busca do bem-estar, ou Movimento Wellness, como ficou conhecida essa macrotendência.
Crédito: Chelsea Shapouri para Unsplash
Uma chuva de ferramentas de autoconhecimento, estratégias de equilíbrio, busca por propósito, cosméticos milagrosos, alimentação saudável, técnicas de meditação e práticas contemplativas que nos tiravam da tempestade de emoções e do vício pela busca externa, para um movimento interno, uma busca por si mesmo olhando para dentro e não mais para fora.
Acontece que, mesmo com tantos recursos disponíveis, os níveis de ansiedade e doenças emocionais/mentais seguiram crescendo sem parar. Um artigo publicado no Medium, intitulado Projeto 2020, traça um paralelo entre as décadas de 1920 e 2020, prevendo que a grande depressão do período atual não seria financeira, como ocorreu em 1929, e sim psicológica.
Em seu ensaio Sociedade do Cansaço, transformado em livro em 2015, o filósofo Byung-Chul Han, traz uma análise importante para esse mapeamento: como o excesso de positividade poderia nos levar não a uma vida com mais bem-estar mas para o extremo oposto disso. Em abril de 2019, a Wunderman Thompson publicou o relatório sobre a Economia da ansiedade, onde fica bastante claro como diversas marcas e empresas criaram produtos a fim de nos ajudar nessa busca interior, mas calma… será que é no consumo que está a saída? Não foi o excesso dele que nos trouxe até aqui? Consumir para interiorizar?
Crédito: R7 em Pinterest
Se o assunto te interessou e você quer saber mais sobre essa onda que chamamos de BurnIn e entender quais serão os desdobramentos em comportamentos, serviços e produtos, se inscreva no #modainfo e acompanhe nossos estudos nessa jornada de formação!
Alguns sinais do BurnIn:
O medo da teoria – A superficialidade na jornada de formação profissional
Empreendedores precarizados – A ilusão/alienação do empreendedorismo: Documentário: Estou me guardando para quando o carnaval chegar
Colaboração só que não – Competitividade entre os millenials