Profissional volta a lecionar no Senac e fala ao #ModaInfo sobre o futuro dos desfiles

Marina Dias, desfile da marca Lino Villaventura Verão 97/98 – Divulgação
Percorrer a história de César Fassina com a moda é compreender o desenvolvimento da profissão de stylist no Brasil.
Com mais de 30 anos dedicados a sua paixão pela área, César, que em 84 produzia figurinos teatrais em Porto Alegre, sua terra natal, inicia a entrevista lembrando de seu primeiro trabalho na capital paulistana, o evento Modos da Moda, realizado em parceria pelo Senac e Sesc São Paulo em 91. “Foi nesse job que produzi meu primeiro desfile, Como Viver sem Dor, da Neca Barreto”, conta.
Responsável pela criação de imagens fortíssimas da moda brasileira, como a do desfile da Lino Villaventura Verão 97/98 no Morumbi Fashion, cuja temática era o despertar de bailarinas congeladas, o profissional define seu trabalho como pluralista. “Quem escolhe trabalho acaba por se rotular e colocar prazo de validade em si mesmo”, acredita.
De fato, não há uma marca de moda nacional que não tenha passado por suas mãos. Sobre essa versatilidade, César é categórico, “já fiz jobs superconceituais, comerciais, de moda plus size e agênero. É a diversidade na moda que interessa. Inclusive, meu casting sempre foi variado”, explica.

Encarte do evento Modos da Moda, realizado pelo Sesc/ Senac em 91 – Acervo pessoal
O stylist, que em 93 foi consultor do primeiro curso de Produção de Moda do Senac São Paulo, retorna agora à instituição para lecionar no curso Técnico em Produção de Moda do Senac Lapa Faustolo. Confira a entrevista com ele na íntegra:
O que te trouxe para o mercado de moda em São Paulo?
Eu comecei a trabalhar com produção de figurinos de teatro e balé em Porto Alegre em 84, mas o mercado era muito pequeno por lá, então vendi tudo o que eu tinha e vim para São Paulo com a cara e a coragem em 91.
E como foi sua adaptação?
Muito difícil. As coisas começaram a melhorar com meu primeiro job, para o evento Modos da Moda, realizado pelo Senac e Sesc, com curadoria da Gláucia Amaral e produção executiva do Miguel Paladino. Sempre falo que esse evento foi o meu curso intensivo, pois nele aprendi muito sobre história da moda. Ao final do evento, produzi meu primeiro desfile, Como Viver Sem Dor, da Neca Barreto.

Programação do primeiro curso de Produção de Moda no Senac São Paulo, que contou com consultoria do César – Acervo pessoal
E qual foi a primeira marca que você produziu?
A primeira marca foi Escola de Divinos (do Heitor Werneck). Fazíamos desfiles às 3 da manhã na balada, o mercado era muito diferente do que é hoje. Em 93, fui consultor do curso de produção de moda para o Senac e, em 95, entrei para a Vogue. Daí, não parei nunca mais.
De lá pra cá, o que mudou nos desfiles?
Mudou tudo, hoje a imprensa não se interessa mais por um desfile às 3 da manhã, por exemplo. De um modo geral, encaretamos.
Qual é a função dos desfiles atualmente?
Os desfiles ainda servem como ferramenta de posicionamento de marca, porém, cada vez mais, a plateia está mais interessante do que as coleções desfiladas. Isso porque a liquidez da informação é tão grande que ousar está cada vez mais difícil. Por outro lado, quanto mais extravagante for seu look, mais chances você tem de virar ícone de street style. Fazer o quê…

Graziela Alves, editorial da coleção desfilada por Walter Rodrigues em 2001 no Petit Palais – Acervo pessoal
Como reverter essa situação?
É preciso ter compaixão ao olhar para o novo, porque de críticos o mundo está cheio. Trabalhar com outros modelos de corpos é um exemplo. Acredito que os desfiles nunca deixarão de existir, já que ainda é necessário mostrar as coleções. Então, quanto mais artísticos eles forem, melhor.
Como você define o seu trabalho?
Sou pluralista. Isso já me possibilitou trabalhar com diversos perfis de marcas. Hoje, entretanto, meu trabalho é tido como clássico, razão pela qual me cerco de pessoas mais jovens do que eu para refrescar o meu olhar.
Quais foram os desfiles que mais te marcaram?
O do Lino Villaventura para o Verão 97 no Morumbi Fashion e o do Walter Rodrigues, em 2.002, no Petit Palais, em Paris, aplaudido de pé pela Isabella Blow, me fizeram chorar de emoção. Neles eu senti que atingimos a beleza plena.
Também gostei muito de fazer os desfiles da Cia. Marítima com a Gisele Bündchen, além da estreia da marca no Rio de Janeiro, que contou com a Naomi Campbell. A Cia. Marítima foi a primeira marca a me contratar como stylist.
Você percebe alguma tendência na criação de imagem de moda?
Se você olhar a capa da revista Interview deste mês, que conta com Jayden e Willow Smith, verá a tendência de criação de imagens sem rótulos. Para mim, essa é a tendência que vem por aí para quebrar esse ciclo de recessão/ caretice que estamos vivendo.